Nas margens sinuosas do majestoso Amazonas, onde as águas refletem o brilho do luar e os sons da floresta ecoam no coração da noite, existe uma criatura mística que atravessa a linha entre o real e o imaginário. É o Boto Cor-de-Rosa, um ser encantado de lendas e sonhos, protagonista de muitas histórias contadas pelos ribeirinhos.
Reza a lenda que, durante as festividades de São João, quando as fogueiras ardem e o céu noturno se enche de balões e fogos de artifício, o Boto transforma-se. De sua forma natural, aquela de um grande e gracioso golfinho de água doce, ele assume a aparência de um jovem belo e charmoso. Vestindo uma camisa branca impecável e escondendo seus olhos sob um chapéu para ocultar o brilho mágico que lhes é peculiar, ele emerge das águas para seduzir as moças desavisadas.
O Boto, em sua forma humana, dança com uma elegância que encanta, conversa com uma doçura que seduz e conquista corações com um sorriso misterioso. Dizem que nenhum homem pode competir com seu charme durante as festas juninas, pois ele traz consigo o mistério das profundezas do rio.
Com a promessa de amor, o Boto leva as jovens para passear nas margens do rio. Sob a luz prateada da lua, murmúrios e risos se misturam aos sussurros da floresta. Mas ao raiar do dia, ele desaparece, deixando para trás apenas o eco de sua risada e o coração partido de mais uma enamorada. Muitas dessas moças acabam grávidas, e a criança sempre carrega um dom especial, um legado de seu misterioso progenitor.
Os anciãos das aldeias frequentemente alertam suas jovens sobre o perigo desses encontros. Contam que se o chapéu do Boto for removido, ele revelará sua verdadeira forma e será forçado a retornar ao rio, deixando para trás o mundo dos humanos. Mas o fascínio pelo desconhecido, pelo encanto do Boto, é muitas vezes irresistível.
Os anos passam, mas as histórias do Boto Cor-de-Rosa continuam a ser contadas nas margens do Amazonas. Em cada festa junina, olhares se voltam para estranhos charmosos que nunca foram vistos antes, perguntando-se se, talvez, o Boto tenha escolhido aparecer novamente, misturando-se entre os mortais para dançar mais uma vez sob a lua amazônica. A lenda vive, respira e dança entre os habitantes da Amazônia, um lembrete eterno da magia que envolve esse lugar misterioso e cheio de vida.